terça-feira, 21 de setembro de 2010 
		 
		  
		 
Cacilheiro
			
			   
 Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
 comboio de Lisboa sobre a água:
 Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro.
 Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.
  
 Na Ponte passam carros e turistas
 iguais a todos que há no mundo inteiro,
 mas, embora mais caras, a Ponte não tem vistas
 como as dos peitoris do Cacilheiro.
  
 Leva namorados, marujos,
 soldados e trabalhadores,
 e parte dum cais
 que cheira a jornais,
 morangos e flores.
 Regressa contente,
 levou muita gente
 e nunca se cansa.
 Parece um barquinho
 lançado no Tejo
 por uma criança.
  
 Num carreirinho aberto pela espuma,
 la vai o Cacilheiro, Tejo à solta,
 e as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
 tiraram um bilhete de ida e volta.
  
 Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
 tu cá-tu lá num barco de brincar.
 Metade de Lisboa à espera do asfalto,
 e já meia saudade a navegar.
  
 Leva namorados, marujos,
 soldados e trabalhadores,
 e parte dum cais
 que cheira a jornais,
 morangos e flores.
 Regressa contente,
 levou muita gente
 e nunca se cansa.
 Parece um barquinho
 lançado no Tejo
 por uma criança.
  
 Se um dia o Cacilheiro for embora,
 fica mais triste o coração da água,
 e o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
 pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa
 
 Poema de Ary dos Santos
 Na voz de Na voz de Carlos do Carmo
 
 
 
 
 
  
		
 
 Colocado por delta  
21.9.10    
			 
 
 
  
 
 
 
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